segunda-feira, 18 de julho de 2011

O REI DA COMÉDIA (The King Of Comedy, Estados Unidos, 1982)


Este filme não é recente, eu sei, mas também sei que, apesar disso, poucos o conhecem. Talvez surpreenda o fato de um filme com um elenco desse nível e um diretor desse gabarito tenha permanecido tão pouco divulgado. Realmente é surpreendente e uma pena. Quando o filme é ruim, muitas vezes nem o elenco nem o diretor o salvam, mas esse não é o caso. Talvez seja o fato de este ser um filme sincero, crítico e introspectivo que aborda o vazio e a solidão proporcionados por um sucesso material mas incapaz de preencher a carência emocional. Esse motivo pode tê-lo afastado da atenção de Hollywood, mas certamente atraiu-o para a minha, garantindo o reconhecimento de esta ser uma obra para indubitavelmente ser admirada.


Neste filme, um homem fracassado profissionalmente (Robert De Niro) é um fã obcecado por um comediante (Jerry Lewis) que possui um programa de entrevistas em um canal de televisão. Ele alimenta uma certeza cega de que irá ser um comediante de sucesso e para isso procura incansavelmente entrar em contato com o personagem de Jerry Lewis. Essa busca vai se tornando mais intensa e obsessiva até que ultrapassa os os limites do normal.

Esse enredo pode não aparentar ser grande coisa, mas o diferencial está exatamente no trabalho dos atores e nas escolhas que o diretor fez para contar esta história.

Robert De Niro, na época em que ele trabalhou neste filme, já era grandemente reconhecido e havia ganho dois Oscar, mas foi quando eu vi sua atuação neste filme que eu reconheci que ele se tratava de um grande ator. Não é que seu trabalho aqui foi melhor que os demais, mas foi a primeira vez que eu o vi sair de sua zona de conforto. Nos filmes que eu tinha visto dele até então, seu papel retratava um homem durão e por vezes autoritário. Havia diversas nuances em seus personagens, mas mas essa visão de um homem certo de si sempre aparecia. Mas então eu assisti a este filme e vi um trabalho completamente diverso da imagem pela qual este ator é mais conhecido.

Aqui o personagem de Robert De Niro é um homem inseguro, fracassado profissionalmente e que alimenta um sonho irreal e improvável. Sua vulnerabilidade pode ser vista em vários momentos, especialmente com um romance ilusório que ele cultiva com uma antiga paquera sua. Todas essas características são convincentemente retratadas por Robert De Niro e com isso conseguiu de forma instantânea minha admiração. Essa  interpretação pôs em prova a versatilidade de um ator que já era reconhecido, mas que passou a ser, a partir de então, por mim admirado.

Este filme proporcionou igual oportunidade e reconhecimento também com relação a outro ator, quem teve essa chance foi o, na época, ainda mais conhecido Jerry Lewis.

O trabalho deste ator como comediante é amplamente conhecido, sendo ele uma figura associada a risos, caretas e filmes divertidos. É exatamente por esses motivos que é completamente inesperado que esse ator fosse escolhido para interpretar o personagem que ele fez neste filme. Seu papel aqui é de um homem que, apesar de seu sucesso profissional e da riqueza acumulada em razão deste, é solitário e incompleto emocionalmente, tornando-o distante e, assim, alimentando sua solidão. Essa é também uma crítica ao sentimento material e consumerista que estava a ser incentivado na década de 1980 e que foi ilustrado neste filme. Esse personagem infeliz e sozinho não foi apenas interpretado por Jerry Lewis, este ator retratou-o de forma surpreendentemente convincente e de forma irretocável, apresentando-nos a multifacetude desse outro ator já bastante conhecido.


Os atores acima, e os demais que trabalharam neste filme, conseguiram brilhar tanto pois quem os conduziu foi um diretor também estelar. Martin Scorsese segura a batuta nesta composição cinematográfica, e nela ele optou por uma visão real do sentimento que estava sendo cultivado naquela época. E para apresentar essa ótica, ele se utilizou da loucura das pessoas que idealizam uma vida falsamente completa.

Uma obra assim pode não gerar os milhões que os grandes estúdios buscam, mas, ainda assim, insisto em divulgá-la, pois não quero cometer o erro de subestimar as pessoas e com isso privá-las de uma obra de cinema repleta de talento.

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