segunda-feira, 11 de julho de 2011

ROUGH DANCER AND THE CYCLICAL NIGHT (Tango Apasionado) (Astor Piazzolla, 1989)


Estou aqui me arriscando outra vez para mostrar um gênero um tanto diferente daquilo que normalmente se conhece. Apesar de Astor Piazzolla ser imensamente conhecido e reconhecido, eu sei de pouquíssimas pessoas que já escutaram sua obra, por isso venho aqui introduzi-lo e, quem sabe, influenciar positivamente o interesse de vocês.

Astor Piazzolla foi um compositor e músico argentino especializado em tango e que, sozinho, foi o compositor mais importante desse ritmo na segunda metade do século XX. Ele tocava banodeón, que é um instrumento que se assemelha a uma acordeão, mas com suas diferenças específicas. O talento e a erudição de suas músicas são um ponto de destaque na sua obra que já se encontra eternizada para servir de lição e inspiração.

 Ao pensar na música desse artista não pensem naquele tango dançado em salões ou nos nos usados em cursos de danças. Ao dizer isso, não quero menosprezar essas músicas, mas sim enaltecer a obra de Astor Piazzolla. O tango composto por este músico não é dançante e não é imediatamente absorvido, ele precisa ser interpretado sendo dosadamente assimilado.
Este álbum que eu me propus a comentar, na verdade, faz parte de uma trilogia, mas autonomamente formada. Dentre os três discos que completam esta obra em particular, eu escolhi o presente álbum, pois acredito que ele se sobressai em meio aos outros. Todos são igualmente grandiosos, mas as emoções aqui musicalmente ilustradas afloram com naturalidade, envolvendo até mesmo o ouvinte desavisado.

Como eu falei acima para a obra de Astor Piazzolla, neste disco também é essencial interpretar suas músicas. Sendo estas todas instrumentais, é vital alcançar os seus significados. Uma obra de arte, seja ela qual for, busca despertar emoções em seu admirador. Nem sempre essas emoções são agradáveis, mas esse foi o desejo do artista. Neste disco, os sentimentos evocados não são de desagrado ou de rejeição, pelo contrário, são belos e prazerosos, mas eles não se restringem a apenas isso. Esta é uma obra complexa e que explora a complexidade dos sentimentos. Sua interpretação não deve ocorrer em músicas isoladas, mas em seu conjunto. O coletivo das músicas é que forma o todo deste álbum e é assim que ele merece ser admirado.

Essa tarefa pode parecer um tanto desestimulante à princípio, mas, acreditem, não o é. As músicas estão arranjadas em uma ordem sequencial que imprimem um nexo sentimental entre elas. Dessa forma, é natural que se siga sua ordem.

Esta é uma obra complexa não por ser difícil, mas sim por lidar com uma pluralidade de sentimentos e emoções. Eu me atrevo a dizer que a natureza das músicas neste disco é poética, assim como o seu conjunto. Da mesma forma como em um livro de poesia, em que seus poemas traduzem emoções para o leitor, e muitas delas diferentes e até antagônicas entre si, mas o conjunto do livro deixa remanescer um sentimento preponderante que restará presente no leitor ao terminar de ler a obra. Com este disco é exatamente isso que ocorre. As músicas individuais desfilam pelos nossos ouvidos nos colocando em contato com diferentes sentimentos, mas essa variação consegue, ao final, imprimir um sentimento envolvente mas que não consegue esquecer o turbilhão de emoções que fora vivenciado.


Ao falar deste álbum, preferi explorar mais o aspecto emocional que ele transmite, para que, se vocês resolverem escutá-lo, não perderem a oportunidade de absorver essa sua característica. Em vez de falar da pluralidade instrumental utilizada, que também retrata o vasto conhecimento e o domínio da música por Astor Piazzolla, achei melhor focar-me nos sentimentos, pois este músico, nesta obra em particular, traz os sentimentos à flor da pele, permitindo-nos lembrar que essa habilidade emocional é também uma característica nossa e que, apesar de ser por vezes menosprezada, continua sendo bela.

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