terça-feira, 26 de julho de 2011

MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO (Stranger Than Fiction, Estados Unidos, 2006)


Talvez por gostar tanto de cinema, quando eu era mais jovem eu ficava imaginando minha vida como se ela fosse um filme, e por pensar assim eu procurava assisti-la como um verdadeiro expectador. Essa ideia inocente foi divertidamente posta em prática neste filme, surpreendendo principalmente o protagonista da história narrada dentro do filme. Essa confusão aparente é desenvolvida de forma leve e contagiante, permitindo que nós nos alegremos ao acompanhar a tragetória desse homem que se tornou personagem principal da história de sua vida.

No filme um homem (Will Ferrell) é fiscal da Receita Federal e por esse fato sozinho ele já bastante odiado, principalmente pelas pessoas fiscalizadas. Ele vive solitariamente e tem suas ações diárias ordenadas e cuidadosamente padronizadas. Essa rotina sincronizada se vê ameaçada quando esse homem passa a escutar seus atos a serem narrados em tempo real. Só depois ele percebe que se transformou em um personagem de um livro que está sendo escrito, e com isso procura a ajuda de um professor universitário de literatura (Dustin Hoffman). Sua aflição aumenta quando ele percebe que, no enredo em que sua vida que está sendo narrada, seu personagem vai morrer ao final da história.


Essa situação paranóica e perturbadora para quem a vive não é de maneira alguma exposta de forma tensa ou apreensiva, pelo contrário. O diretor abordou esse tema com leveza e facilidade, mas sem tirar sua relevância. Isso permite que a história possa ser aproveitada de maneira despreocupada, sem convocar o expectador para um pesado estado de concentração. Na verdade o que este filme faz é envolver o expectador, permitindo-o relaxar dentro da história, e, por estar envolto no ambiente do filme, quem o assiste se vê involuntariamente concentrado nele.

Uma surpresa a ser testemunhada neste filme diz respeito à atuação de Will Ferrell. Esse ator é amplamente conhecido por seus papéis cômicos exagerados em filmes ainda mais extravagantes. No entanto, o que se vê neste filme é uma atuação contida que traz um personagem introspectivo e reservado que fica desestabilizado ao ter seu espaço pessoal invadido. Esse tipo de personagem contido e tímido diverge dos trabalhos anteriores desse ator, tornando mais surpreendente o fato de ele o ter interpretado tão bem.

O restante do elenco também está excelente, mas não posso deixar de mencionar a presença de Emma Thompson como a escritora que está prestes a matar o personagem de Will Ferrell, essa atriz sempre faz um trabalho irretocável e aqui não é exceção. Mas o brilhantismo deste filme está mesmo com Will Ferrell que, além de ser comicamente convincente em seu papel, apanha a todos desprevenidos ao desenvolvê-lo tão naturalmente. O roteiro deste filme  foi competentemente elaborado, valorizando a interpretação dos atores, e permitindo que a complexa situação exposta na película seja facilmente digerida pelos expectadores.


Nos detalhes que compõem o visual do filme, o diretor também fez as escolhas certas, e, com isso, permitiu que este título apresentasse um diferencial, deixando de ficar no comodismo de expor apenas o óbvio.

Este filme não é restrito a um enredo imaginário com uma história interessante, seu desenvolvimento expõe uma mensagem que incentiva às pessoas a aproveitarem a vida, mesmo sem saber que ela está prestes a acabar. Essa valiosa lição foi exposta sem exageros nem absurdos, contribuindo para que percebamos que nós próprios é que narramos nossas vidas, sendo nosso o trabalho de transformá-la em uma comédia ou uma tragédia.

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