domingo, 11 de novembro de 2012

SOZINHO CONTRA TODOS (Seul Contre Tous, França, 1998)






Depois de assistir a "Irreversível" de Gaspar Noé, sempre fiquei com vontade de conhecer os outros filmes desse diretor. “Irreversível” me marcou e impressionou em vários sentidos, por isso ele foi um dos primeiros filmes que eu comentei aqui no Blog. Agora, finalmente criei coragem e fui assistir a este filme para ver se iria ser marcado e impressionado novamente. Mesmo antes deste filme acabar, eu já estava abalado pela brutalidade psicológica que ele retrata, e, assim, eu sabia que iria carregá-lo comigo como uma lembrança incômoda, que fora tão belamente retratada.


A arte não existe apenas para retratar ou transmitir o bonito. Há obras artísticas que propositalmente são criadas para incomodar e mostrar lados obscuros e feios, seja da natureza, seja da humanidade física ou psicológica. É preciso identificar esse propósito, e, assim, uma obra que eficientemente impressiona por mostrar um lado negro do homem, será belamente admirada.

Este filme perturba e incomoda, mas esse é o seu propósito. Ele faz o expectador ser destinatário direto das reflexões de um homem que percorre o caminho psicológico para a insanidade. Um homem que fora rejeitado em todos os aspectos da sua vida até chegar a um ponto em que racionalizar sua existência se transformou em um espiral para a loucura.

Nesse sentido psicológico este filme é bruto e agressivo. Mas eu digo isso como uma qualidade do filme. Sem nem permitir que o expectador se acomode, o filme empurra fatos do começo da vida do personagem a uma velocidade que exige grande concentração. Isso já faz com que o expectador seja absorvido pelo filme, mesmo sendo esses fatos sofridos e incômodos. Depois disso, a viagem passa a ser a mente do personagem principal, um açougueiro de cavalos, desempregado, desiludido, e rejeitado incessavelmente pelos personagens da vida. O único ser que, para esse personagem, é uma luz na sua vida é a sua filha, que ele abandonou anos antes. Essa, então, passa a ser sua motivação: se reencontrar, se acertar e salvar a filha, mesmo que esse ato em si já tenha se transformado em uma de suas reflexões paranoicas e irracionais.

As reflexões do personagem principal passam rapidamente, e é preciso de atenção para acompanhá-las. A velocidade em que elas são faladas é a velocidade em que elas são pensadas, exigeindo que o expectador fique atento a elas. A mente sofrida do personagem apresenta ideias drásticas e conclusões extremadas, mas é no decorrer do filme que essas ideias vão se tornando cada vez mais irracionais. No início, apesar de pessimista e sofrida, a mente do personagem ainda consegue raciocinar com alguma lógica, mas é no progredir do filme que essa lógica vai sumindo.

Com este filme, Gaspar Noé conseguiu mais uma vez impressionar e marcar. A viagem brutal na mente de uma pessoa sofrida e desiludida que se dirige para a insanidade faz com que o passageiro carregue a lembrança dessa viagem. Essa lembrança insistirá em permanecer, mas ela também lembrará o expectador da beleza deste filme que, como eu disse antes, tão belamente retratou o feio.


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