quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O LUTADOR (The Wrestler, Estados Unidos, 2008)





Quando eu fui assistir a este filme eu estava curioso, pois já havia escutado alguns elogios sobre ele, especialmente sobre a atuação de Mickey Rourke. Eu queria saber o que estava fazendo o público gostar tanto deste filme, então, levado pelo título e pelo enredo que eu superficialmente tinha escutado, me preparei para ver um filme de luta com cenas de ação. Esse foi um grande erro da minha parte, mas um erro maravilhoso. Mesmo se eu soubesse a profundidade que esta obra alcança, eu, ainda assim, não estaria preparado para o que está retratado nela.

A forma crua, mas sensível em que é apresentado o gradativo isolamento social dos personagens, e a busca deles de encontrar alguém com quem possam, nem que por piedade, dividir seus deprimentes instantes; todo esse conjunto leva-nos a fazer uma auto-análise, fazendo-nos repensar nossas atitudes para com os outros e até no rumo que nossa vida vai tomar. A maneira real e autêntica com que o filme é apresentado não é nem gratuita nem excessiva, pelo contrário, devido a relevância do que é revelado, a exposição desses fatos merece que seja realizada realisticamente para que possamos ver, sem fantasias, o sofrimento dos outros que muitas vezes somos nós quem contribuimos para essa dor. 


A história é de um antigo lutador de luta livre (Mickey Rourke), que já foi um grande lutador mas agora, já com a idade avançada, não está mas no nível de antes. Apesar disso, ele continua lutando e fazendo shows de segunda categoria, vivendo do que ele antes foi. A pessoa mais próxima de um amigo para esse lutador é uma stripper (Marisa Tomei), sendo ela a única a ter compaixão pela degradante situação desse antes famoso lutador. Este, ao ver que sua saúde não mais consegue suportar as situações brutais a que ele expõe seu corpo, procura encontrar alguém que consiga, ultrapassando sua aparência grotesca, ver humanidade em sua pessoa, e assim compartilhar seus tristes momentos.

O enredo que eu escrevi acima apenas dá uma pequena expectativa do que está exposto neste filme, pois, mesmo lendo esse enredo, vocês ainda ficarão surpreendidos com a sensibilidade do filme.

O roteiro do filme está belíssimo. Logo no início, ao assitir a uma luta com o personagem principal, o expectador é exposto à violenta condição a que ele é submetido. Essa brutalidade inicial é física, mas no decorrer do filme vê-se o triste isolamento social a que esse lutador está submetido. Ao expor a vida desse personagem, o roteiro cuida também para que o expectador veja seu lado humano, que grandemente se sobrepõe à qualidade violenta que superficialmente aparenta ser predominante.

Mickey Rourke brilhou no papel do lutador. O que talvez tenha também ajudado ele foi que, de certa forma, sua história se parece com a do personagem, no sentido de que ele já foi grande, mas que bruscamente foi posto no anonimato. No entanto uma coisa deve ficar clara, o desempenho surpreendente de Mickey Rourke não foi fruto apenas dessa semelhança. Seu trabalho impressiona do começo ao fim, nas cenas de luta vê-se que é ele a se apresentar, mas mais do que nessas cenas, o que impressiona e comove são as cenas dramáticas. A imersão de Mickey Rourke neste personagem foi total e isso só tornou o filme melhor.

Todo o elenco está excelente, mas não posso deixar de elogiar também o trabalho de Marisa Tomei como a stripper única amiga do personagem de Mickey Rourke. Seu desempenho também é primoroso e sensível, conseguindo não se deixar ocultar pela atuação de Rourke.

Por fim, Darren Aronofsky, mais uma vez, fez um belíssimo trabalho dirigindo este filme. O fato de ele seguir os atores com a câmera permite que o expectador veja, de forma contínua, as transições entre as emoções dos personagens. Isso dá mais autenticidade aos fatos, conseguindo, inclusive, envolver ainda mais o expectador na história.


Ao contá-la apresentando uma visão íntima dos personagens, foi possível fazer quem assiste ao filme se emocionar com essas figuras que tão violentamente sofrem com a solidão. Expondo os sentimentos e emoções dessas pessoas que nos são propositalmente esquecidas, o filme faz com que nós percebamos que, mesmo aqueles que são envoltos em feiura, dureza e até exploração carnal são, ainda, humanos, e, como nós, buscam o carinho de outro ser humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário