segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CANINO (Kynodontas - Dogtooth - Grécia, 2008)


A simples leitura do enredo ou de um comentário sobre este filme não vai lhe preparar para o que está ilustrado nele. Este filme já foi bastante elogiado, mas é ao assisti-lo que se pode efetivamente constatar que esses elogios são realmente merecidos. Obsessão, controle, manipulação, insanidade, curiosidade, sensualidade e sexualidade são conceitos e ideias com que os telespectadores terão de se defrontar ao assistir este filme. Ele não oferece soluções mas propõe perguntas cujas respostas tocam em assuntos sensíveis, e que envolvem o instinto humano, tantas vezes suprimido pela racionalidade excessiva e controladora.

Aqui fala-se de um pai e uma mãe que criaram seus filhos, duas meninas e um menino, em uma casa, mas amedrontaram essas crianças de forma que elas pensam que se saírem da casa o que há de pior pode lhes acontecer. Ocorre que essas crianças chegaram na adolescência e se desenvolveram, com isso uma curiosidade natural começa a desafiar esse conceito e o regime a que elas estão submetidas.


Controle e manipulação são os tópicos que desencadeiam questionamentos mais abrangentes, questões  essas que parecem inesgotáveis e que se multiplicam durante o filme.

A forma como esta película foi fotografada não foi aleatoriamente escolhida , esta obra é filmada de uma maneira um tanto estática mas isso condiz extatamente com  a vida levada pelos filhos do casal da história.  Seu ambiente controlado não permite que ocorram muitas variações e por isso a forma inerte da câmera, na maioria das cenas, combina com a situação. Pontualmente a câmera é levada a movimento justamente para contrastar com a inércia verificada anteriormente.

Um dado interessante que serve de exemplo para se verificar o grau de controle ao qual os filhos na história estão submetidos, pode ser verificado, por exemplo, no fato dos pais, para isolarem os meninos de certos pensamentos, atribuírem significados fantasiosos para determinadas palavras. Pode ser difícil de aceitar que essa atitude ocorra, ou seja efetivamente aplicada, mas devemos ter em mente que esses filhos nunca possuíram outra forma de contato com o mundo exterior, só restando para eles uma aceitação tácita.

O roteiro deste filme foi otimamente construído e através dele consegue-se ver gradativamente a profundidade e o grau da manipulação imposta. Aliada a apresentação desse roteiro está a atuação impecável dos atores que retratam com a pureza necessária esse estado de controle. Esse trabalho de interpretação exigiu dos atores coragem e vulnerabilidade para ilustrarem aspectos íntimos do ser humano, e eles o fizeram sem descaracterizar a inocência que é fruto da condição de isolamento vivida por seus personagens.

 
Como já fora mencionado acima, a técnica utilizada na filmagem desta película foi a de uma câmera estática, mas isso não quer dizer que fazer esse filme foi fácil. De forma alguma. Mesmo sendo a técnica  aparentemente simples, foi preciso um grande domínio da mesma para se obter o correto enquadramento das cenas e efetivamente captar os atores. Foi através da utilização dessa técnica que a história obteve seu impacto mais acentuado. Para se optar por essa forma mais estática de utilização da câmera, levou-se em consideração o teor da história e o resultado que se desejava alcançar com ela. Isso, aliado ao roteiro e à ótima atuação dos atores, proporcionou  uma harmonia entre a história e a forma como ela foi contada. Esse tipo de andamento conjunto deve ser considerado antes de se iniciar a realização de qualquer filme, pois essa decisão afeta e determina tanto o andamento quanto o resultado do filme por inteiro.

 
A história deste filme orbita ao redor do controle e da manipulação extremos, mas existem certos comportamentos que não se conseguem coibir. Essas ações são resultados do institinto do ser humano que, mesmo sendo racional e inteligente, esta espécie não deixa de ser um animal. Por estar na natureza humana, esses instintos precisam ser satisfeitos e para isso o homem se utiliza de sua inteligência e dos meios ao seu dispor, mesmo sem inicialmente saber das consequências de seus atos. A partir desses atos inconsequentes afloram consequências indesejáveis, e dessa constatação podemos retirar deste filme, dentre outras conclusões, que, ao lado do controle extremo, está o caos incontrolável.


Um comentário:

  1. Esse filme é daqueles que vc assistiria mais de uma vez? Porque se for, precisamos vê-lo.

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