terça-feira, 7 de setembro de 2010

HENRY’S DREAM (Nick Cave And The Bad Seeds, 1992)

Varia muito as maneiras como nos deparamos com obras que acabam alargando nossos horizontes. Muitas vezes é a pura coincidência que nos premia com essas oportunidades, outras vezes contamos com a força de outra pessoa que, conscientemente ou não, nos aconselha uma certa obra. Foi assim que investi neste disco do Nick Cave. Um amigo meu disse-me que este disco era bom e que valia a pena investigar. Apenas com essa informação comprei o disco e fiquei atordoado. No fim das contas ele é  impressionantemente excelente! 


Já na primeira ouvida do disco, Nick Cave envolve os ouvintes com o ritmo frenético das canções iniciais e os mantém hipnotizados até o fim do álbum. Essa é a primeira impressão. Depois o ouvinte fica com desejo de explorar cada música, e assim vai descobrindo mais facetas além da enérgica pressa apresentada nas canções de abertura. Por fim, descobre-se que o disco é sensível e emotivo, mas não num sentido meloso para essas palavras. Muito pelo contrário.


Abrindo o disco, Nick Cave canta uma música intensa, e nela aproveita a harmonia entre as partes instrumental e vocal de modo que uma acompanha e abre espaço para a outra. É isso que ocorre mas o ouvinte tem a impressão de que está a acontecer exatamente o contrário. Nick Cave parece mais recitar do que cantar, e sua voz está com pressa, denotando raiva nos versos falados. Apesar de parecerem independentes, os vocais fluem acompanhados da parte instrumental, e constantemente observam-se deixas que são preenchidas com precisão pelos instrumentos. Essa simbiose gera uma empolgação que aparece instantaneamente e incentiva o ouvinte para escutar o disco por inteiro.

Após a euforia inicial que acompanha também a segunda música, a canção que se segue é mais lenta e Nick Cave passa a cantar de forma mais tradicional, ou seja, sem a impressão de estar a falar por cima dos instrumentos. Apesar de ser mais devagar, essa terceira música não perde sua força nem destoa das outras. Isso serve também para todas as canções deste disco que reduzem a inquietude das outras. Na verdade este álbum faz esse jogo de antíteses entre suas canções, enquanto uma música é frenética a outra é mais calma, mas dessa forma a unidade do disco completa-se de maneira coesa e as canções encaixam-se coerentemente.

Em todo o disco e em cada música, as letras das canções foram compostas com  alta relevância. Há um cuidado especial na mensagem de cada música, por isso ao cantá-las Nick Cave preocupa-se com cada palavra falada. Isso é perceptível pelo ouvinte que logo verifica que a letra das canções são complexas e exigem uma atenta concentração para assimilar o vocabulário utilizado. As palavras são fortes e explícitas, sem permitir que o ouvinte relaxe despreocupadamente ao escutá-las. Isso prende a atenção e concede a relevância buscada. Os versos ácidos e rebeldes compostos por Nick Cave neste disco também sustentam-se sozinhos e podem facilmente serem vistos como poesia. 


Eu disse que o disco é sensível e emotivo, mas isso porque, através de um grito raivoso, ele desfere um murro de emoções no estômago do ouvinte. Depois disso é melhor que o ouvinte sinta algo, pois, caso contrário, é sinal que ele não sente nada. Neste disco Nick Cave produziu uma obra conjunta e não um apanhado de canções individuais. Ao fazer isso ele forneceu um álbum em unidade e nele este cantor aponta aspectos vis mas presentes no ser humano. Isso é cantado com uma voz raivosa e rebelde que extrai exatamente esses sentimentos do ouvinte. Essa é a resposta que deve estar presente nas obras de arte, ou seja, fazer ebulir emoções nos seus admiradores, e este disco não só faz isso como deixa sua ebulição remanescer mesmo depois de haver terminado.

Um comentário:

  1. Fala cara, tudo bem? Muito bom o blog. Só filmes foda você postou, já assisti a maioria.

    Sobre Nick Cave, tem um dos melhores faroestes já feitos, "A proposta". Abraço.

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