quinta-feira, 12 de julho de 2012

DRIVE (Drive, 2011, Estados Unidos)




O fato de eu escrever sobre este filme é tão inevitável como não deixar de ficar mesmerizado, atordoado e hipnotizado com ele. A ambientação, os atores, a trilha sonora de encaixe impecável e o cuidado visual presentes nele fazem o expectador ficar por inteiro envolvid com o desenvolver deste filme que preenche os espaços de nossas mentes como os sonhos que carregamos mesmo depois que acordamos.


O enredo é simples: Um mecânico misterioso e dublê de carros em filmes, interpretado por Ryan Gosling, se afeiçoa a uma mulher, Carey Mulligan, cujo marido estava preso. Ao sair da cadeia, esse marido se vê obrigado a cometer outro crime e assim pagar uma antiga dívida.  Para proteger a mulher com quem esteve brevemente envolvido, o mecânico concorda em dirigir para o marido no assalto que este irá cometer, no entanto, tudo dá errado, e a partir daí as opções vão se tornando cada vez menores.

Eu sei que o enredo não apresenta nada novo, mas a forma como o diretor fez este filme traz toda uma diferenciação e deixa-o único.

Pelo título e pelo enredo, é de se esperar que este seja um filme de ação frenética e de alta velocidade, e essa foi exatamente a aposta do diretor. Ele utilizou essa impressão que é passada e utilizou o efeito ccontrário, ou seja, imprimiu no filme um ritmo mais vagaroso, lento. Mas isso sem tirar a tensão, que foi eficientemente mantida. 

Quadros demorados e closes nos atores impuseram esse passo mais contido no filme. Essa decisão não tornou o filme monótono, pelo contrário, permitiu que ele envolvesse o expectador, exigindo uma interpretação constante das cenas apresentadas.

Um cuidadoso trabalho também foi dispendido na escolha da trilha sonora. Ela desponta de imediato e chama logo a atenção. As músicas carregam um estilo retrô, invocando os anos 80, e isso se encaixa perfeitamente com a ambientação do filme. A história se passa no período atual, mas a maneira como esta obra foi filmada e o próprio enredo se adequam perfeitamente a essa evocação aos anos 80, fazendo com que as músicas, mesmo deslocadas, se encaixem inebriantemente.


Outra escolha bastante particular neste filme foi a utilização do silêncio das personagens nas cenas, especialmente naquelas com o personagem principal. Já que não se perde muito tempo explicando cada detalhe do filme, cabe ao expectador interpretar o conteúdo das cenas. Esse papel mais ativo do expectador permite um engajamento maior com a história. A economia nas palavras não é aleatória. Aliada com o ritmo mais controlado do filme e com a trilha sonora que, por chamar a outro período, fica adequadamente deslocada, esta obra transmite uma ambientação onírica para a história. O expectador involuntariamente recorre ao subconsciente diante de todos esses aspectos sensoriais, e caminha na história como se progredisse em um sonho.

Este filme continua sendo de ação, mas é um filme único nesta categoria. Não se explora nele a adrenalina do expectador, mas é o teor misterioso das personagens que arrasta a tensão de quem o assiste. As cenas de violência não são gratuitas, mas são brutalmente reais, e traz consequências também bastante reais para os personagens que habitam este filme com passos de sonho. Quando acordamos durante um sonho, continuamos com a impressão de estarmos no meio dele. Essa é a impressão que este filme deixa. Apenas nos damos conta do quanto ele bom momentos depois, pois durante algum tempo continuamos andando como se ainda estivéssemos a assiti-lo.


4 comentários:

  1. Minhas impressões sobre o filme foram exatamente as mesmas, e vc conseguiu relatar com tamanha precisão! Parabens, a leitura me proporcionou sentir o mesmo prazer experimentado ao assistir esse filme, que é tudo que vc falou acima, nos mínimos detalhes.

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    1. Sei que estou atrasado em responder, mas gostei muito de seu comentário. Serve como um incentivo fantástico para mim. Continue comentando, mesmo que seja para criticar. :) Um abraço.

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  2. Será um prazer, meu caro! Viva a boa escrita e a sensibilidade do autor!Abraços.

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