domingo, 16 de outubro de 2011

BOA NOITE, E BOA SORTE (Good Night, And Good Luck, Estados Unidos, 2005)





Por opção este filme está em preto e branco, mas com certeza ele merece todo o espectro de nossa atenção. Os detalhes nele presentes e a maneira escolhida de filmá-lo transformaram-no em uma obra cinematográfica cuidadosa e com atuações impecáveis, com esses fatores sua qualidade foi maximizada, alcançando um status de obra de apreciação obrigatória. Este filme é uma excelente obra cinematográfica, mas o fato de a história nele retratada ser real, o transforma em um documento histórico que belamente divulga uma época na história americana em que sua tão defendida liberdade era atacada pelos próprios americanos.


Como dito antes, este filme retrata uma história real que se passou nos anos 50, na época em que nos Estados Unidos havia uma verdadeira febre para caçar comunistas. Nessa época, uma figura central foi a do Senador Joseph MacCarthy que comandou essa busca, sendo ela, na maioria das vezes, infundada e paranóica. Inúmeras pessoas eram levadas ao Comitê do Senado Americano e publicamente tinham sua vida despedaçada, tendo, quase sempre, que confessar serem comunistas mesmo sem sê-lo.

Nesse período, um número incontável de cineastas, incluindo diretores, atores, produtores e outros, foram rotulados de comunistas, mesmo sem serem, e eram forçados a deporem e a entregarem conhecidos que eles nem sabiam se eram ou não comunistas. Quem se recusava a fazer isso, ficava sem emprego e impossibilitado de ser contratado pelos estúdios. Isso deixou centenas de atores e diretores desempregados e passando necessidades, pois essa busca por um inimigo fantasiosamente criado durou vários anos.

Tudo isso são fatos verídicos e fazem parte da história. Este filme se passa exatamente nesse período e fala de Edward R. Murrow, um jornalista e apresentador de TV que, corajosamente, se voltou contra essa situação, atacando em seu programa especialmente o Senador Joseph MacCarthy.

Essa época histórica já foi retratada em outros filmes, não sendo ela, em si, uma novidade. O que é novidade é a coragem desse jornalista que pôs seu presente e futuro em risco ao atacar o membro do governo que  podia cavar sua sepultura profissional.


O cuidado com que este filme fora feito pode ser visto em seus detalhes e nas escolhas de como filmá-lo. Primeiramente, o fato de ele estar em preto e branco combina perfeitamente com a época retratada. Além disso, já que são mostrados trechos originais dos discursos do Senador MacCarthy, que logicamente estão em preto e branco, uma vez que o filme também se utiliza dessas cores, não se exige qualquer esforço para reconhecer que tudo se passa de forma contemporânea.

A fotografia em preto e branco é o fator mais imediato de se notar, no entanto, um aspecto grandioso deste filme foi o trabalho dos atores. Nesse ponto eu gostaria de chamar a atenção especificamente para o ator principal, David Strathairn, que interpreta o jornalista Edward R. Murrow. Seu trabalho está irretocável e elegante. A dicção, sua postura e a sutileza de suas emoções foram apresentadas de forma surpreendente por esse ator. Porém, não quero com isso menosprezar o trabalho dos demais atores, até mesmo porque todos eles já são conhecidos e reconhecidos. Com um elenco assim, o filme, além ganhar excelente qualidade, recebe ainda destaque ao ter nele várias estrelas.

A trilha sonora aqui também não pode ser menosprezada. George Clooney, que brilhantemente assina os trabalhos de escritor, ator e diretor desta obra, foi sensível o suficiente para escolher o jazz como pano de fundo para nós escutarmos, sendo as músicas cantadas por Dianne Reeves, possuidora de uma belíssima voz já conhecida no mundo do jazz. Esse detalhe torna o filme mais envolvente e ajuda a situar o expectador na época em que esta obra se passa.

Entre outros aspectos críticos, este filme, transmite responsabilidade e coragem, pois seu personagem principal chamou para si essas duas características e enfrentou todo um governo que reprimia as pessoas através de um pretexto muitas vezes fabricado. Essa atitude foi tomada com uma classe invejável e, apesar de a causa ser emotiva para muitos, Edward R. Murrow não ultrapassou os argumentos racionais. Centrado na razão e em uma boa causa, esse personagem real ainda consegue nos inspirar através de uma obra delicada que renova em nós a coragem que ele teve.

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