Tem ocasiões que fico pensando sobre qual filme eu vou comentar a seguir, e por vezes lembro de um título e me pergunto: Como é que eu já não falei dessa obra ainda? Com este filme foi isso que aconteceu.
Este filme impressiona, mas impressiona em vários sentidos e em diferentes momentos. Ao saber do enredo e antes mesmo de assistir a este filme, primeiramente o expectador fica atônito com a agressão psicológica pela qual passa o personagem principal. Depois, já assistindo ao filme, o que de forma perplexa absorve a atenção do expectador, é o teor gráfico das cenas que ilustram violências físicas e emocionais. Após isso, ao terminar o filme, o expectador se encontra desorientado e atordoado por ter experimentado esse turbilhão de emoções que esta obra consegue fazer emergir de todos que entram em contado com ela.
O enredo deste filme é de um homem de comportamento desleixado e irresponsável que é sequestrado e aprisionado em um quarto sem que lhe seja dito porquê ele está sendo mantido nessa condição. Após 15 anos aprisionado, esse homem é posto em liberdade sem que ainda lhe seja dito a motivo, apenas disseram-no que ele tinha cinco dias para descobrir quem o pusera nessa situação e porquê. A partir de então esse se tornou o único motivo para seus atos e assim começa sua tragetória.
Ao tomar conhecimento desse enredo, é impossível ficar indiferente com a situação descrita nele. A reação menos intensa que se pode ter é a de intriga, pois não se pode ter desdém diante de tal situação, mesmo ela sendo hipotética.
A idéia concretizada de passar 15 anos preso em um quarto sem ter contato com ninguém e sem saber o motivo dessa situação é mais do que suficiente para enlouquecer uma pessoa. Conseguindo manter a sanidade durante esse tempo, essa pessoa, quando posta em liberdade, perdeu o senso de razoabilidade. Dessa forma, para descobrir quem foi o responsável pelo seu confinamento, ela será capaz de realizar quaisquer atos sem, com isso, ser perturbada por remorsos. Admitindo isso, o expectador, de alguma maneira, compreende a violência que é apresentada no filme. Essa compreensão também faz com que as cenas que expõem esses atos não sejam vistas como desnecessárias ou gratuitas, pelo contrário, tendo em vista a ambientação do filme, elas são essenciais para a história.
Neste filme foi estabelecida uma unificada harmonia entre a história que seria contada e a forma como essa história deveria ser contada. Todos os envolvidos na filmagem deste título perceberam que se tratava de uma situação única e que merecia uma atenção especial. Consciente dessa situação, todos estão impecáveis em seus trabalhos. A fotografia, utilizando um filtro esverdeado e um pouco mais escurecido especialmente nas cenas de violência, impõe um realismo condizente com o sentimento do filme, pois dá o aspecto de repulsa vivenciada pelo personagem. Em contrapartida, há cenas em que este personagem invoca lembranças de quando ainda era criança, e nessas cenas as imagens são bem mais claras e iluminadas, pois são de uma época em que a inocência ainda existia.
Os atores são também motivo de elogios, especialmente o ator principal que enfrentou o árduo desafio de ilustrar as confusas emoções e transformações pelas quais passam o seu personagem.
Por fim, deve-se, sem dúvida, reconhecer o trabalho do diretor que, através de sua sensibilidade, reconheceu a importância desta obra e elevou-a a um patamar de maior destaque dentro da grandiosa trilogia da qual ela faz parte.
Tive a oportunidade de ver este filme no seu ano de estreia numa rara projecção em sala de cinema (pelo menos em Portugal). O cinema asiático tem uma vertente de violência como elemento condutor do argumento que eu ainda não consigo digerir. A cena dos dentes conseguiu arrancar-me da sala... Mas isso pouco diz sobre a qualidade deste filme.
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