quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O LABIRINTO DO FAUNO (El Laberinto del Fauno, Espanha, 2006)





Em alguma fase da nossa vida a imaginação concorre com a percepção real dos acontecimentos. Isso ocorre quando nossa inocência procura uma forma de melhor aceitar uma realidade por vezes tão dura. Essa é uma época bela, que causa saudades após a maturidade se sobrepor com seus conceitos racionais. Através deste filme a beleza dessa fase nos é melancolicamente reapresentada como um escapismo bem-vindo em uma época de tirania e violência. A graciosidade dessa imaginação mostra uma pureza que antes também foi por nós vivenciada, e que deveria ser sempre protegida da malícia predatória vinda com a maturidade. Este filme confronta esses dois mundos, o real e o imaginário, e nos permite concluir que este mundo, apesar de ser criado, é livre das horrendas violências que o homem infringe no outro.


Este filme se passa em 1944, quando a Espanha ainda estava sob um regime facista. Nesta época de tirania, uma jovem e sua mãe vão morar com seu padrasto, um sádico coronel do exército. Frente as violências que eram vistas e diante da constante repressão que essa jovem era submetida, ela passou a crer e a viver em mundo que a aceitava e a chamava para nele viver livre dessas horríveis situações.

Ao descrever esse enredo, eu tento não entrar em pormenores, assim, os detalhes que tornam este filme ainda mais especial e único permanecem por serem descobertos por quem vier a assisti-lo. Através desses detalhes, a história se torna mais dura e cruel, mas, em oposição a essa concepção, essas mesmas particularidades envolvem a idéia retratada no filme com uma pureza admirável. Essa inocência invoca nossa reverência, pois é justamente em meio a situações extremas e violentas que, mesmo assim, um mundo belo e convidativo é imaginado.

O universo mitológico que foi criado está repleto de habitantes também mitológicos. Nesse mundo, cada um desses personagens desempenha um papel todo particular, e é a incumbência de cada um desses personagens que determina sua forma e até seu comportamento. Nesse aspecto de personificação das personagens, especialmente as fantasiosas, uma produção especial e um cuidado particular foram devotados. A perfeição e a observação aos detalhes permitem que o expectador, sem maiores dificuldades, também acredite neles. Esse realismo disposto sobre esses personagens é também o realismo que é apresentado nas cenas que retratam o mundo facista que existia naquela época. Esta realidade, devido a sua natureza e agravada pelo sadismo do personagem do coronel, padrasto da jovem que veio a morar com ele, se torna brutal e cruel, como ela realmente é.


Esse cuidado de desenvolver realisticamente um mundo imaginário traz elogios particularmente para as equipes de efeitos especiais e de maquiagem. O cuidado e empenho de todos os envolvidos no processo de personificação dos personagens e de criação do universo imaginado está explícito nas imagens que enchem os olhos do expectador.

Coordenando todos esses fatores e certamente auxiliando no processo de criação, está o diretor, Guillermo del Toro, que, além de nos surpreender com a direção desta obra, também é autor de sua história. Acumulando as duas funções de escritor e diretor, Guillermo del Toro foi capaz de reproduzir exatamente aquilo que havia imaginado para a história, e sabendo de sua beleza, esse diretor foi bastante meticuloso em sua realização.

Ao apresentar dois mundos de maneira tão verídica e igualmente críveis, é razoável que o expectador passe a se questionar qual dos mundos seria a realidade concreta adotada neste filme. Ao final, caberá ao otimismo e à inocência ainda preservada de quem o assiste decidir essa indagação. Eu confesso que até hoje não tenho minha conclusão definitiva, mas sem dúvida sei qual seria a resposta eu gostaria de dar, o que me atrapalha é minha maturidade insossa e sem graça, mas que este filme conseguiu inibir, retirando os freios da imaginação que eu pensava estar dormente.

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