domingo, 19 de junho de 2011

PEIXE GRANDE (Big Fish, Estados Unidos, 2003)


O cineasta quando adapta um livro para tornar sua história em um filme, se depara com uma série de desafios, especialmente a enorme cobrança de tentar transportar toda a ambientação e envolvimento que o livro proporciona, para as telas. Quase nunca isso é alcançado e o filme acaba sendo uma história à parte, que não conseguiu traduzir as mesmas emoções que o livro passa. No entanto, este filme alcançou uma tarefa quase impossível, e, assim, com ele, podemos assistir a um livro. Sua ambientação é toda  literária, e seus personagens não são personagens cinematográficos, mas sim emergidos da literatura. Com tudo isso, pode-se dizer que esse é um filme que se lê, e não apenas que se assiste. A maneira como sua história é contada nos faz imergir nessa órbita literária, fornecendo momentos de deleite e prazer.


Eu não vou aqui comparar o filme com o livro, eu vou falar apenas do filme, mas, por todas as suas particularidades, isso acaba sendo, simultaneamente, uma reflexão literária devido ao universo ao qual nós somos, por ele, convidados a adentrar.

A história é de um filho que vai visitar o pai que se encontra doente e tudo indica que ele está chegando ao final da vida. Esse pai se recusa a ver o mundo de forma racional e objetiva e conserva para si uma belíssima imaginação que lhe ajuda a enxergar o mundo com inocência e beleza, deixando-o participar de uma constante aventura. É sob esta ótica que a história de sua vida nos é contada, convidando-nos, assim, a participar de sua surpreendente jornada.

Acho difícil que outra pessoa além de Tim Burton conseguisse transportar, com tanta naturalidade, personagens tão fantasiosamente ricos para a tela de cinema. Este diretor é conhecido por seu trabalho com personagens inusitados, mas este filme se diferencia de seus outros trabalhos. Primeiro, porque Johnny Depp não participa dele, e segundo, porque a maioria de seus outros trabalhos possui uma imagem gótica e um tanto sombria. Este filme não. Este filme é dotado de uma alegria contagiante. Apesar de um dos personagens estar em direção ao final de sua vida, a visão alegre e cheia de vida que este personagem oferece é o que prevalece. As suas experiências inusitadas que nos são contadas inflam nosso ser com uma sorridente alegria de viver, e isso se sobrepõe a qualquer outro sentimento negativo.


Nesta fábula são apresentados vários personagens estranhos, para dizer o mínimo, mas todos eles são mostrados com uma áurea toda particular. Nos livros, quando um personagem novo é introduzido, o autor sempre tem o cuidado de o descrever para o leitor, claro que cada autor o faz com seu estilo próprio, mas uma introdução ao personagem sempre deve ser realizada. Dessa forma, quando o vemos, sabemos de suas peculiaridades. Isso ocorre nos livros, mas é esse o sentimento que temos com relação aos personagens deste filme. Vai além da técnica de desenvolvimento do personagem utilizada no cinema. A impressão é a de que os personagens nos foram narrados por escrito, tornando o filme ainda mais aconchegante.

Outro aspecto interessante é a ambientação das cenas. Como grande parte da história se passa em uma cenário de fantasia, todo o ambiente precisou ser construído para corresponder com os arredores que estavam a ser contados. Tudo isso foi feito com incrível eficiência e só serviu para nos envolver ainda mais na história.

Ewan McGregor e Albert Finney são os protagonistas principais das inusitadas situações que nos são contadas, e são também os responsáveis por contar esta história para nós. Ambos estão excelentes, especialmente o primeiro. Mas neste filme existe um grande elenco para ser mencionado e todos desempenharam um trabalho primoroso, mas não vou apontá-los, pois neste filme todos eles deixaram de ser atores para se tornarem personagens de uma mágica aventura.


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