sábado, 18 de junho de 2011

CISNE NEGRO (Black Swan, Estados Unidos, 2010)


Muitos podem achar que já passou o tempo de escrever sobre este filme uma vez que acabou o frenesi das indicações ao Oscar e das premiações. No entanto eu penso diferente. É exatamente por já haver se encerrado essa curiosidade sobre premiações que um comentário sobre este filme finalmente pode ser escrito tendo como foco o mérito de seu desenvolvimento, a irretocável atuação dos atores, e a visão única do diretor, isso sem pressões de se fazerem adivinhações. É por isso que preferi escrever sobre ele agora, e não antes. Acredito que, assim, este comentário causa mais curiosidade do que se ele tivesse sido escrito na época dos Oscar, tornando-se, dessa forma, apenas mais um comentário a ser somado no meio dos outros.

Mesmo sem fazer uma pesquisa aprofundada, através da Internet, já era possível saber da existência deste filme mais de um ano antes de sua estréia. Isso gerou uma grande expectativa sobre seu lançamento e sobre se ele iria ser tão bom quanto se esperava. Quando o filme é bom, essa antecipação não atrapalha, pois os expectadores não ficam desiludidos, mas quando o filme é pior do que o esperado, essa divulgação prévia torna-o ainda pior do que o que ele realmente é. Apesar disso, o presente filme não sofreu essa segunda desilusão, pois todos os seus elementos conseguiram, mesmo assim, surpreender a platéia. Mesmo assim, eu acredito que este filme vivenciou uma perda devido ao tempo em que ele foi lançado. Ao estrear em meio à grande maioria dos filmes que concorreram ao Oscar, a atenção que este filme merecia ficou de certa forma dividida e o público não pôde se focar inteiramente nele. No entanto, isso não o tornou menos especial.

No filme, uma bailarina extremamente perfeccionista treina constantemente para apresentar uma coreografia livre de erros. Seu esforço faz com que ela deixe de capturar nuances que lhes são cobradas e isso a deixa obcecada para alcançá-las. Essa cobrança traz perturbações paranóicas que vão lhe deixando em um estado de medo e insegurança, sentimentos que devem estar longe de sua profissão de bailarina.

O enredo pode não encantar tanto, mas nos filmes o que se deve buscar admirar é a maneira como a história é apresentada. O “como” o filme é apresentado é que o torna especial. Neste filme, o diretor Darren Aronofsky, apresenta uma visão em primeira pessoa vindo da personagem interpretada por Natalie Portman. Essa perspectiva faz com que o expectador experiencie uma visão parcial e veja a intensidade de como os demônios pessoais afligem essa personagem. É inevitável não se envolver e não se frustrar com a busca excessiva, da personagem, pela perfeição que ainda é alimentada pela mãe, uma antiga bailarina que teve sua carreira precocemente encerrada devido a uma gravidez acidental.

Tudo isso domina a atenção do expectador que se vê sentindo as mesmas angústias apresentadas no filme. Mas, sem o menor espaço para dúvida, grande parte de tudo isso que passamos a experienciar se deve pela superlativa atuação de Natalie Portman. No filme, ela é uma dançarina que busca a perfeição, mas, na vida real, com esse papel, ela alcançou essa meta. A tênue linha, na qual caminham os atores, e que  serve de fronteira entre uma atuação exata, e uma demasiada, ou forçada, e uma performance minimizada, foi respeitada. Essa dificílima meta foi alcançada por esta atriz, que não tropeçou neste percurso. A medida exata de emoção foi passada em todas as cenas, sem haver excesso ou falta de sentimento, e vale salientar que essas cenas são de extrema dificuldade de serem interpretadas. Não me refiro à coreografia, que não pode ser esquecida e que dificulta ainda mais o trabalho de Natalie Portman, mas falo das cenas viscerais e emotivas que foram desempenhadas com brilhantismo. Sem dúvida, é uma atuação para ser registrada e lembrada.

 
Como eu falei no início, agora, sem as expectativas e curiosidades sobre os prêmios que este filme iria receber, pode-se  admirá-lo sem essas cobranças adicionais. Assim, é possível imergir na história e excluir a visão minimalista de quem teima em afirmar que este filme é sobre balé, pois na verdade ele todo é uma grande metáfora sobre a constante batalha individual que travamos em busca de nossos desejos.

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