segunda-feira, 1 de outubro de 2018

BLOOD ON THE TRACKS (USA, 1975)





Quando falo de Bob Dylan tenho de me concentrar e conter minhas conclusões emocionais e tentar fazer uma análise crítica e racional dos discos dele. Mas, mesmo separando sentimentos e usando a razão, é impossível não ser atropelado pela beleza das letras, pela construção instrumental simploriamente complexa, pelas temáticas atemporais e reflexivas, pelo rasgar de sua gaita e pelo som nasal de sua voz, perfeito em suas músicas.
 
Mesmo sendo fã de Bob Dylan, foi fácil escolher esse disco para comentar. Na verdade, essa vontade já gritava na minha cabeça faz tempo. O que impedia de eu dividir essa obra com vocês é o fato de ela ter um valor íntimo e pessoal pra mim. Força, sensibilidade, conforto, vulnerabilidade, saudade e dor são emoções que afloram nesse disco. Todos esses sentimentos foram por mim vividos e magnificados por esse disco. Tive ele de amigo várias vezes, por isso acho que está na hora de ele virar amigo de vocês também.

Esse disco foi lançado em 1975 e ele é o décimo sexto disco de Bob Dylan. Dylan já estava reconhecido e valorizado no mundo musical, apesar das polêmicas e mudanças em sua música. Não existia qualquer dúvida sobre o talento de Bob Dylan de fazer músicas de qualidade e muito menos sobre a capacidade dele de compor letras fortes e marcantes. Nessa altura, ele já havia marcado para sempre o Rock mundial, mudando, com uma única música, a forma de encarar uma canção e uma composição de Rock. Like A Rolling Stone já tinha 10 anos de idade e foi aí que Bob Dylan lançou Blood On The Tracks.

Entendam que não quero dizer que Bob Dylan fez esse disco em comemoração ou com alguma reminiscência do Highway 61 Revisited ou de Like A Rolling Stone, de forma alguma. Bob Dylan odeia se repetir. Isso é explícito nos discos ao vivo dele que sempre fazem arranjos diferentes para suas músicas. Blood On The Tracks veio como mais um disco desse artista, mas, como na enorme maioria de discos dele, não seria um disco qualquer.

As músicas que estão nesse disco merecem destaque individual e conjunto. Cada uma delas é tão boa que o disco parece uma coletânea. Com isso eu quero dizer que cada uma consegue se sustentar sozinha, com temática, música e letra tão boas que ao escutar nem que seja uma delas você é atordoado com a vontade de escutar ela de novo.


Mesmo com esse destaque isolado de cada canção, Bob Dylan conseguiu colocar músicas de tanta força em sequência uma da outra. Essa sequência não quebrou nem diminuiu o impacto das músicas, pelo contrário. Ouvindo ao disco, você começa com a narração de Tangled Up In Blue, seguido da dura Simple Twist Of Fate, e aí despenca na sofrida You’re A Big Girl Now. A partir daí você já está vivendo um caleidoscópio emotivo e conclui que esse disco está indo para um patamar diferenciado.

Bob Dylan, em suas letras, conta histórias palpáveis, visuais e realistas, porém embrulha essas histórias com música e poesia, fazendo-as inesquecíveis. As críticas sociais estão sempre presentes, e elas não são sutis, mas não por falta de talento, é o oposto, o talento de Bob Dylan é tão grande que ele expõe o social com histórias vividas e vistas em nosso cotidiano.

Eu podia ficar dissecando cada canção desse disco e não iria ser cansativo, mas quero deixar vocês descobrirem como esse disco é especial.


Quando escutei esse disco, fiquei atordoado. Descobri uma canção que, ela também, tinha angústia e lamento dentro de si. Essa canção nunca deixa de ser especial, pois essa angústia e lamento vão e voltam pra mim. Esse disco lastima e, como todos nós, lembra de tempos ruins querendo que eles sejam bons. Mas é aí que ele se torna meu amigo, pois, dividindo comigo melancolia e pranto, ele me mostra, de uma forma peculiar, que podemos usar essa sinergia e construir um abrigo para a tempestade, e aí algo que era só arte, passa a ser vida também.



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