segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SKELETON KEY (Nick Cave, 2016)



 
O primeiro disco que comentei aqui no blog foi Henry’s Dream, de Nick Cave. A partir desse disco, fui conhecer esse artista e desde então venho descobrindo uma obra surpreendente.

Em 2016, Nick Cave lançou Skeleton Tree, e fiquei bastante empolgado para escutar esse disco. Só agora consegui finalmente comprá-lo e escutá-lo, mas, depois de dias com ele, ainda estou atordoado com a beleza melancólica que as músicas transmitem. Sentidos e sentimentos são avassalados com uma pureza minimalista, mas retratando emoções duras e humanas. A angústia ouvida na voz e tocada pela banda provoca nossa solidariedade e cumplicidade para os sentimentos lá presentes, assim, humanos que somos, nos surpreendemos quando vemos que a dor no disco saiu da música e agora é sentida por nós também.


O álbum como um todo serve de exemplo de um trabalho minimalista, mas plural e intenso ao mesmo tempo.

As letras de Nick Cave não são fáceis, mas isso já é esperado, no entanto, as letras das músicas desse disco lidam com perda, angústia pela ausência, e abandono. Essas temáticas podem afastar alguém em um primeiro momento, mas fujam dessa primeira reação. Cada música aborda esses temas em direções diferentes e isso retira qualquer cansaço de ouvi-las. O fato de orbitarem a redor de temáticas emocionais difíceis dá unidade ao disco, permitindo que o ouvinte siga explorando os sentimentos lá retratados.

Embalando letras doloridas e realistas, está a parte musical que aqui hipnotiza o ouvinte. O caráter minimalista pode ser prontamente identificado na parte musical. Realmente Nick Cave, com a ajuda de Warren Ellis, explorou com maestria isso. A participação da banda foi pontualmente colocada, dessa forma os sons, as notas e as vozes são cantadas para desenhar, em detalhes, as emoções escolhidas.

Ao escutar o disco, a impressão é a de que Nick Cave segue cantando e externando esses sentimentos duros e difíceis, e que, paralelamente e de forma quase independente, surge a banda com os instrumentos ilustrando as emoções. Nesse disco, essa união entre a voz de Nick Cave com a parte musical traduziu belamente as dores sempre difíceis, mas sentidas. É envolvente escutar essa luta do ser com a angústia do coração, fazendo o ouvinte se render ao que lhe está sendo revelado.

Até agora, me detive a analisar aquilo que o disco e suas músicas externam, mas um outro fato enaltece ainda mais essas impressões.

Em 2015 Nick Cave já estava trabalhando nesse disco e a maioria das letras estavam prontas, mas,
em julho de 2015, um de seus filhos morreu em um acidente. Seu filho tinha apenas 15 anos. Só após isso é que o disco foi gravado.

Assim, depois de saber desse fato e ao escutar o disco, você compreende que a dor e o sofrimento que Nick Cave exprime em sua voz são reais. Isso fornece um caráter pessoal e íntimo para o disco e ficamos inevitavelmente envolvidos por essa tristeza conosco dividida.

Ultrapassando dor e angústia, Nick Cave nos deu esse disco. As músicas nele transcendem aspectos técnicos e atingem diretamente entranhas, garganta e lágrimas.

Uma imersão em anseios do coração e do ser não é para todos, mas a coragem de enfrentar essas emoções nos ajuda a ultrapassá-las. A arte faz isso, ela nos traduz, e esse disco tem sua beleza aumentada por decifrar dores que muitos preferem não reconhecer. Continuo escutando esse disco e vou descobrindo detalhes dele e de mim também, assim, quando ele acaba, mesmo estando com lágrimas nos olhos, escuto tudo de novo.

Um comentário:

  1. Que profundo...é lindo como através da música alguém pode colocar um sentimento tão real e com isso as outras pessoas podem sentir tbm. Gostei bastante dessa

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