O primeiro disco que comentei aqui no blog foi Henry’s
Dream, de Nick Cave. A partir desse disco, fui conhecer esse artista e desde
então venho descobrindo uma obra surpreendente.
Em 2016, Nick Cave lançou Skeleton Tree, e fiquei bastante
empolgado para escutar esse disco. Só agora consegui finalmente comprá-lo e
escutá-lo, mas, depois de dias com ele, ainda estou atordoado com a beleza
melancólica que as músicas transmitem. Sentidos e sentimentos são avassalados
com uma pureza minimalista, mas retratando emoções duras e humanas. A angústia
ouvida na voz e tocada pela banda provoca nossa solidariedade e cumplicidade
para os sentimentos lá presentes, assim, humanos que somos, nos surpreendemos
quando vemos que a dor no disco saiu da música e agora é sentida por nós também.
As letras de Nick Cave não são fáceis, mas isso já é
esperado, no entanto, as letras das músicas desse disco lidam com perda,
angústia pela ausência, e abandono. Essas temáticas podem afastar alguém em um
primeiro momento, mas fujam dessa primeira reação. Cada música aborda esses
temas em direções diferentes e isso retira qualquer cansaço de ouvi-las. O fato
de orbitarem a redor de temáticas emocionais difíceis dá unidade ao disco,
permitindo que o ouvinte siga explorando os sentimentos lá retratados.
Embalando letras doloridas e realistas, está a parte musical
que aqui hipnotiza o ouvinte. O caráter minimalista pode ser prontamente
identificado na parte musical. Realmente Nick Cave, com a ajuda de Warren
Ellis, explorou com maestria isso. A participação da banda foi pontualmente
colocada, dessa forma os sons, as notas e as vozes são cantadas para desenhar,
em detalhes, as emoções escolhidas.
Ao escutar o disco, a impressão é a de que Nick Cave segue
cantando e externando esses sentimentos duros e difíceis, e que, paralelamente e
de forma quase independente, surge a banda com os instrumentos ilustrando as
emoções. Nesse disco, essa união entre a voz de Nick Cave com a parte musical
traduziu belamente as dores sempre difíceis, mas sentidas. É envolvente escutar
essa luta do ser com a angústia do coração, fazendo o ouvinte se render ao que
lhe está sendo revelado.
Até agora, me detive a analisar aquilo que o disco e suas
músicas externam, mas um outro fato enaltece ainda mais essas impressões.
Em 2015 Nick Cave já estava trabalhando nesse disco e a
maioria das letras estavam prontas, mas,
em julho de 2015, um de seus filhos
morreu em um acidente. Seu filho tinha apenas 15 anos. Só após isso é que o
disco foi gravado.
Assim, depois de saber desse fato e ao escutar o disco, você
compreende que a dor e o sofrimento que Nick Cave exprime em sua voz são reais.
Isso fornece um caráter pessoal e íntimo para o disco e ficamos inevitavelmente
envolvidos por essa tristeza conosco dividida.
Ultrapassando dor e angústia, Nick Cave nos deu esse disco.
As músicas nele transcendem aspectos técnicos e atingem diretamente entranhas,
garganta e lágrimas.
Uma imersão em anseios do coração e do ser não é para todos,
mas a coragem de enfrentar essas emoções nos ajuda a ultrapassá-las. A arte faz
isso, ela nos traduz, e esse disco tem sua beleza aumentada por decifrar dores
que muitos preferem não reconhecer. Continuo escutando esse disco e vou
descobrindo detalhes dele e de mim também, assim, quando ele acaba, mesmo
estando com lágrimas nos olhos, escuto tudo de novo.
Que profundo...é lindo como através da música alguém pode colocar um sentimento tão real e com isso as outras pessoas podem sentir tbm. Gostei bastante dessa
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