terça-feira, 22 de maio de 2012

SHAME (Shame, Estados Unidos, 2011)




   
Sem sombra de dúvidas existem filmes que não são para todo mundo. Não estou duvidando da inteligência de vocês, apenas reconhecendo que há filmes que possuem temáticas sensíveis que requerem uma maturidade especial. Este filme é assim. O problema que é tratado aqui é bastante real, mas ainda é um tabu até mesmo no mundo moderno.  A privacidade que o envolve dificulta ou até mesmo impossibilita que uma ajuda seja pedida ou compreendida. Mas este filme corajosamente abordou essa realidade, e o fez com uma sensibilidade ímpar. O fato de o filme falar de um viciado em sexo pode afastar muita gente, mas mesmo aqueles que resistem a esse tema não podem ignorar a beleza deste filme e a atuação épica de Michael Fassbender. A sensibilidade aqui molda momentos angustiantes, e acorda em nós um constrangimento antes ignorado por uma falsa pureza. E é isso que a arte deve fazer: nos despertar.


Como fora brevemente mencionado, a história deste filme é de um homem, interpretado por Michael Fassbender, que é viciado em sexo. Solteiro e morando sozinho, ele conseguiu balancear sua vida e suprir o seu vício, seja com prostitutas ou através da Internet. Mas sua necessária privacidade é interrompida quando sua irmã aparece sem dizer para ficar por tempo indefinido.

O diretor deste filme resolveu realmente abordar essa história, e por isso devemos lhe ser grato. Por causa dessa decisão, cenas difíceis foram aqui incluídas, e retratadas como elas devem ser. O nu foi mostrado, mas não de maneira vulgar. O filme não permite que essa intimidade seja vulgarizada, e isso deixa essa obra ainda mais bela.

Uma música constante acorda os sentidos desde os primeiros instantes do filme. Essa música transmite uma angústia e uma inquietação, pois são exatamente por esses sentimentos que o personagem principal se vê constantemente dilacerado. Como essa música está presente durante todo o filme, o expectador acaba por sentir uma parcela dessa angústia, e isso impede que as cenas mais explícitas sejam vistas como sendo de natureza apenas carnal. Esse efeito foi cuidadosamente pensado, involuntariamente manifestando em nós um constrangimento lastimoso que o personagem tem de carregar.


Toda a beleza do filme, sem dúvida, é alcançada junto com o trabalho de seus atores principais, Michael Fassbender e Carey Mulligan. Ambos os atores estão excelentes, mas a maior atenção deve ser voltada para Michael Fassbender, que faz o personagem principal. Este ator está primoroso nesse trabalho. Acredito que a dificuldade desse papel não está nas cenas sexuais, mas sim no trabalho emocional que circula todas as ações do personagem. Sentimentos complexos e compostos são apresentados com uma veracidade única por esse ator. Isso está cada vez mais raro de se ver, e faz com que eu fique ainda mais feliz por testemunhar uma interpretação cuidadosa, sensível e magistral como essa.

Eu gosto de temas polêmicos, por isso não apresentei maiores resistências para assistir a este filme, mas sei que muitas pessoas terão de superar uma barreira inicial, ou até mesmo uma proibição pessoal. Mas, caso vocês decidam assistir a este filme, o façam com a mente aberta e disponível a se sensibilizar com essa situação embaraçosa e privada aqui retratada. Essa concessão os porá em contato com uma sensibilidade que chega a ser constrangedora por ainda ser relutada. O cuidado oferecido ao se fazer este filme consegue produzir no expectador esse efeito sentimental, e assim faz emergir beleza da grotesca situação aqui exposta.

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