sábado, 6 de novembro de 2010

DEIXA ELA ENTRAR (Låt den rätte komma in - Let The Right One In -, Suécia, 2008)



















  


Quando esse filme ficou disponível em DVD, eu li um breve comentário a seu respeito e fiquei curioso para assisti-lo. Apesar disso, só tomei essa iniciativa há dois dias atrás (31/10/2010) e com certeza não estava preparado para o impacto que ele causou. A forma como esse filme foi tratado e exposto transporta para os espectadores um sentimento de remanescência, fazendo com que, quem o assiste, carregue-o em sua mente mesmo após ele haver acabado.


A história é de um menino de 12 anos que no colégio é vítima de abusos e implicâncias por parte de outros colegas. Envergonhado com essa situação, ele a omite em casa e procura refúgio sozinho. Ao estar solitário no pátio em frente ao seu edifício, esse menino conhece outra menina de mesma idade que a sua, e iniciam uma bela amizade. O que a menina tenta manter omitido é que ela é uma vampira e, assim, precisa de sangue humano para viver.

Esse é o enredo do filme, mas, apesar de possuir um vampiro na história, não se deve classificá-la como apenas uma história de vampiro. O relacionamento entre as duas crianças tem um destaque acentuado e é vital para todo o andamento filme.


A pureza e a inocência presentes no convívio entre as duas crianças são evidenciados no filme, assim como a carência que o menino sentia e que foi preenchida com essa amizade despretensiosa e necessária para ele. A importância dessa amizade para o menino o faz transmitir uma aceitação incondicional, sendo na medida do possível retribuída pela menina que vive certas limitações devido a sua condição vampiresca.

O outro lado da história é a vida de vampira vivida pela menina. Por ter de se alimentar de sangue humano, a menina é obrigada a matar suas vítimas. A morte dessas pessoas é violenta e sangrenta, e isso contrasta com a pureza experienciada na sua relação com o menino. Outro fator chocante nessas cenas sangrentas é o fato delas terem como sujeito ativo uma menina de 12 anos. Certamente é um confronto com a inocência de uma menina dessa idade, mas demonstra o que é requisitado da parte dela.


As cenas de morte nesse filme perturbam mais que o de costume justamente por toda a inocência que é retratada nele. Devido a esse contraste, é inevitável que o espectador não continue a repassar em sua mente tanto as cenas violentas, quanto as de amizade entre o menino e a menina, mesmo depois de o filme haver acabado.

Apesar de o eixo central ser o convívio entre a menina vampira e o menino, eu sou obrigado a chamar atenção também ao relacionamento da menina com um senhor que é encarregado de ajudar e cuidar dela.  Uma vez que esse relacionamento se encerra antes da metade do filme, ele pode passar despercebido para aqueles que se concentram mais nas duas crianças, mas eu considero esse elo entre a menina e esse senhor como sendo de grande importância, especialmente no tocante ao sentimento deste senhor por ela.


Agora falando de aspectos mais técnicos, acredito ser um erro criticar o ritmo em que a história foi filmada. O ritmo lento e desacelerado utilizado é o que transporta o foco do filme da situação vampiresca da menina para o relacionamento carente e sincero entre o menino e ela. É por estar sendo conduzido de forma lenta que as cenas de morte e sangue chocam e se diferenciam do sentimento que o filme passa. O ritmo do filme permite que haja uma reflexão entre as cenas, e essa reflexão é incentivada especialmente nas cenas que se filma a neve a cair em uma noite isolada e vulnerável.

Como eu já deixei escapar, o sentimento que o filme passa é o de inocência e amizade. Mais que o horror fruto da condição de vampira da menina, é o relacionamento de quase dependência entre o menino e ela que transborda e é carregado pelo espectador depois que o filme acaba. Esse filme conta uma história perturbadora, mas lhe é dada uma conotação de pureza que se sobrepõe a qualquer outro sentimento. Isso torna esse filme inesquecível e a pessoa fica compelida a se emocionar com essa história.

Sem dúvida é uma obra extremamente bem feita e que lida com contrastes, mas que faz o sentimento infantil e inocente se sobrepor aos violentos acontecimentos presentes no filme. Esse é um filme que a pessoa carrega consigo e passa algum tempo até ele deixar de estar presente no pensamento. Por ser marcante assim, essa obra alcança um nível influenciador, merecendo elogios e reconhecimento. Por isso, da minha parte, estou passando através daqui tanto os elogios quanto o reconhecimento para esse filme que fez por merecer.
 
ATENÇÃO: Recomendo que assistam logo a esse filme, pois já vi que Hollywood fez uma adaptação dele. Isso eu só soube depois de haver assistido o original e, para aproveitá-lo de forma plena, aconselho assisti-lo antes de sair essa adaptação americana. Não é para deixar de assistir essa adaptação, ela pode ser boa, mas o crédito deve ser dado a quem teve originalmente teve todo o trabalho de fazer um filme belo assim.


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