terça-feira, 14 de setembro de 2010

ALMAS À VENDA (Cold Souls, Estados Unidos, 2009)

De forma estereotipada, o gênero ficção científica é pensado como sendo só de filmes que tratam sobre futuros distantes com carros voadores, ou títulos cuja história é passada no espaço sideral. É verdade que boa parte dos filmes desse gênero se encaixam em uma ou nessas duas descrições, mas isso não deve restringir essa classificação. O filme Cold Souls é uma hipótese de filme de ficção científica que se passa no presente e com personagens bastante reais, ainda assim não deixa de pertencer ao gênero da ficção científica.

Neste filme Paul Giamati interpreta nada menos que Paul Giamati. No filme, seu personagem está ensaiando para uma peça de teatro escrita pelo autor russo Tchekov. O peso emocional de seu personagem teatral é transbordante, e Paul Giamati se encontra sobrecarregado emocionalmente, o que o impossibilita de progredir como ator. É nessas circunstâncias que lhe recomendam visitar uma clínica especializada em extrair as almas das pessoas e guardá-las. Relutantemente, o ator dirige-se à clínica e, por fim, extrai sua alma e esta fica guardada no próprio estabelecimento. Desprovido dessa parte de seu ser, esse personagem encontra um alívio inicial. No entanto, após um certo período todos os seus relacionamentos acabam por se deteriorar tendo em vista seu comportamento estranho e inesperado. Por fim, Paul Giamati decide reincorporar sua alma a seu ser, e é aqui que ele descobre que sua alma fora contrabandeada para a Rússia. A partir de então se inicia a caravana para obter sua alma de volta.


Esse é o enredo do filme, mas alguns aspectos deste título merecem ser especificamente apontados.

Primeiramente, a atuação de Paul Giamati, como sempre, é digna de reverência. A capacidade desse ator de transpor em sua interpretação diferentes nuances emocionais merece uma atenção específica. Neste filme, este ator precisa variar o comportamento e suas reações constantemente. Não adianta idealizar a personagem e estabelecer suas atitudes. Como se está lidando com a presença ou a ausência de algo tão essencial como a alma, especificamente para a profissão de ator, surge a necessidade de abordar a personagem sob a influência de diferentes situações interiores. Esse desafio é desempenhado com grande maestria por Paul Giamati que trabalha essas variações.



Este é um filme independente interessante, que trás a ficção científica para o presente, explorando uma concepção humana de maneira inusitada. Ele não é perfeito, tem suas falhas, mas não desmerece uma apreciação. Certamente este filme não é um sucesso de bilheteria, nem tem essa pretensão. Entretanto, essa forma diferente de se explorar um tópico é o que está faltando na fórmula já desgastada utilizada nas grandes produções de Hollywood, e isso é o que se deve estimular.

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