segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O ANTI-HERÓI AMERICANO (American Splendor, Estados Unidos, 2003)


Por estar sempre procurando filmes que por aqui no Brasil passaram despercebidos, encontrei este título pouco mencionado nos canais dominantes de comunicação. Apesar de não ser estampadamente divulgado, este filme encontrou seu espaço na vertente “underground” de cinéfilos. Não sei se me encaixo nesse grupo, pois não sou daqueles que só gosta de filmes vanguardistas, mais comuns nas produções independentes, mas sempre escutei comentários sobre este filme, e eles vieram com boas referências. Sendo recomendado por fontes confiáveis, decidi assisti-lo, para, então, escrever sobre ele.

American Splendor é baseado na vida real de Harvey Pekar, um homem amargo e pessimista que tem como passatempos colecionar discos de jazz e revistas em quadrinhos cultuadas nas esferas de vanguarda. Seu trabalho era de arquivista em um hospital e isso lhe rendia um salário digno da classe média baixa, lhe servindo de desculpa para seu comportamento de pão duro. Seu mau humor era ainda agravado por um problema nas suas cordas vocais ocasionado pelas suas constantes gritarias. A vida desse personagem ia como sempre, carrancuda, solitária e invariável. Foi inspirado nisso e nas constantes situações incômodas e enervantes enfrentadas no dia a dia, que ele decidiu escrever uma história em quadrinhos que apontasse esses constantes desconfortos. Como ele não sabia desenhar, pediu para um amigo seu, um ilustrador com carreira conhecida, para desenhar os personagens.

Pela simplicidade e honestidade da temática, a revista, de título igual ao deste filme, lançada por este indivíduo invulgar, conseguiu um relativo sucesso no meio “underground” das revistas em quadrinhos. Isso incentivou a publicação de mais números, e daí passou a ser periódica e procurada nesse meio.
Além de conhecer sua atual esposa, inicialmente uma fã de seu trabalho, a vida do personagem principal jamais foi alterada, mesmo com o sucesso de sua revista. Ele permaneceu arquivista no mesmo hospital e manteve as mesmas amizades.

Tendo a vida real, e, mais particularmente, sua vida, como inspiração, era frequente a inclusão de seus amigos e conhecidos em suas histórias. Isso empresta um teor concreto de realidade para suas publicações. A mesma coisa acontece com este filme. A utilização dos personagens reais durante algumas cenas, e a narração realizada pelo próprio Harvey Pekar, permite com que se tenha uma concreta noção da realidade mostrada no filme. Isso enfatiza o propósito da película que é o de abordar a vida real. E esse é o charme deste título.

Estampando eventos vivenciados por pessoas de classe média e classe média baixa, American Splendor cativa justamente por não idealizar situações impossíveis ou que raramente seriam alcançáveis. As dificuldades como doença, falta de realização profissional, frustração no relacionamento e desafios financeiros, enfrentadas por pessoas comuns, provam que as mesmas são relevantes e que não devem ser menosprezadas.

Com personagens tangíveis ao mundo real, este filme nos cativa pela sua simplicidade temática e pela forma como a mesma é abordada. Misturando atores, personagens de quadrinhos e personagens reais, mostra-se, de forma divertida, que os problemas quotidianos, rotulados como banais, e geralmente menosprezados, assim como as pequenas conquistas acumuladas no dia a dia, possuem grande relevância, pois são elas que preenchem a vida das pessoas.

Assistir este filme foi um ótimo conselho que me deram e devo repassá-lo adiante. Ele não carrega pretensões de mudar o mundo ou causar revoluções, no entanto, é uma adição excelente para a mente e para o humor de quem tem a oportunidade de assisti-lo. Apesar de não alcançar um lugar de grande destaque no cenário mediático brasileiro, vai ver que este filme conseguiu aquilo que o mesmo se propunha a alcançar, ou seja, igual como na revista em quadrinhos homônima, que inspirou sua realização, este filme é celebrado e conhecido no meio “underground” do cinema, tendo conquistado adeptos e admiradores, felizes por conhecerem esta obra.

Obs.: Harvey Pekar faleceu em 12/07/2010, mas eu já havia escrito esse comentário. De todo jeito, aqui está uma pequena homenagem.

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